Enchentes e Inundações entre Planícies e Montanhas
- RICARDO GOMES RODRIGUES
- 1 de fev.
- 4 min de leitura
As opções que a cidade de São Paulo tinha no início de 1950 para se expandir, e permitir um crescimento que saísse daqueles 2,5 milhões de habitantes para os atuais 20 milhões em sua Região Metropolitana eram escassas.
A questão da expansão, do crescimento, e do desenvolvimento industrial da RMSP estava intimamente ligada ao seu relevo.
As melhores opções apontavam para a o conhecido ABC-D Paulista (Santo André, São Bernardo, São Caetano e Diadema). Uma região aonde o Sistema Relevo-Clima tinha tornado o Planalto Paulista mais plano, ou suavemente ondulado, abrindo uma imensa brecha entre a Mantiqueira e a Serra do Mar.
Essa Região do ABC-D era cortada ao meio na direção norte-sul pela Via Anchieta (SP-150), em rota direta e mais curta para o Porto de Santos.
O Sistema Funicular da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí entre o planalto e o litoral estava em crise, e o terminal de Paranapiacaba no alto da Serra do Mar não estava dando conta do recado para as necessidades sempre crescentes de movimentação de carga entre o Planalto e a Baixada Santista.
Os congestionamentos e os acidentes ferroviários nesse terminal eram crescentes devido ao número de etapas requeridas para a montagem e desmontagem dos comboios de carga em direção ao Porto de Santos, que ficavam assoberbados pela intensidade do tráfego.
Desde a Avenida do Estado (Via Anchieta) até o ABC-D, formava-se um corredor estratégico de transporte e logística que vinha desde a Região Industrial Leste do Brás, Belém e Belenzinho até o Porto de Santos, servindo de eixo industrial estruturante da Região Metropolitana de São Paulo, e uma alternativa de curta distância às opções ferroviárias existentes tanto em Paranapiacaba, vindo da Estação da Luz, quanto na localidade de Evangelista de Souza que dividia o tráfego ferroviário da Sorocabana, a partir da Estação Júlio Prestes na região central das Estações.
O crescimento de São Paulo apontava para a Zona Leste, ABC-D Paulista, em direção à Guarulhos, e à Zona Norte encostando no maciço da Cantareira, tendo como eixo estruturante de transporte a BR-381 (Via Fernão Dias), e a BR-116 (Via Dutra) ao longo do rio Tietê.
Essa rápida descrição do desenvolvimento industrial da Região Metropolitana de São Paulo demonstra as limitações que o relevo impunha ao seu crescimento e expansão.
Ao norte, o complexo Cantareira-Mantiqueira; e ao Sul, a Serra do Mar formavam uma espécie de dique, definindo limites geográficos máximos para expansão de São Paulo nessa direção com acessos através da BR-381 (Fernão Dias), Dutra (BR-116), e Anchieta (SP-150 ou BR-050).
A leste, o Vale do Paraíba em direção à São José dos Campos; e a oeste em direção à Osasco e Barueri, tornavam-se uma opção mais desimpedida, apontando para as vias Dutra (BR-116) ao longo do Tietê-Pinheiros, e ainda para a Castelo Branco (BR-374) ou SP-280 em direção à Sorocaba com alternativa pela SP-270 (Via Raposo Tavares) para a cidade de Mairinque, atingindo-se a conexão ferroviária ali existente entre a Sorocabana e a Santos-Jundiaí vindo desde Campinas.
Nas entrevias estava a Via Anhanguera (SP-330) ou BR-050, que tinha na Via Anchieta sua continuação em direção à Santos vindo de Jundiaí e Campinas.
A questão era de como unir todos esses pontos. A resposta mais óbvia era usar as áreas de inundações nas várzeas das bacias hidrográficas dos rios Pinheiros, Tietê e Tamanduateí, os quais definiam a partir da BR-116 uma área plana de ligação entre as regiões leste-oeste e norte-sul da RMSP, conectando-as aos acessos rodoviários vindos de Campinas, Jundiaí, Sorocaba e São José dos Campos em direção ao Porto na Baixada Santista.
Em relação ao meio urbano da capital Paulista propriamente dito, as várzeas dos rios Tamanduateí, Tietê e Pinheiros abriam caminho para possíveis avenidas de ligações, e vias expressas complementares às vias de acesso descritas acima.
Essas avenidas complementares uniriam as áreas densamente povoadas de São Paulo às necessidades de sua expansão urbana, trazendo melhor fluidez à circulação do tráfego na cidade, que estava entalada entre morros, barrancos, e dividida entre várias áreas de inundações das várzeas de rios e riachos.
Desde o bairro de Pinheiros na região Oeste, a abertura da Avenida Rebouças, e sua continuação alargada da rua da Consolação apontavam para a região das Estações no centro da cidade.
Desde o Sul, as Avenidas Jabaquara e Paulista, e sua continuação através da Doutor Arnaldo apontavam para à Lapa, e a Barra Funda na BR-116 no rio Tietê.
As Avenidas Santos Dumont, Tiradentes e Prestes Maia, na área do Tietê -Tamanduateí conectavam-se com a 23 de Maio, apontando para o Aeroporto de Congonhas ao Sul. Ainda nessa região, a avenida Cruzeiro do Sul se juntava à BR-050 para formar a avenida do Estado, apontando para as regiões Leste e ABC-D, seguindo o fluxo de tráfego da via Anchieta em direção ao Porto de Santos.
Percebam que essa transformação da antiga e provinciana capital Paulista de 2,5 milhões de habitantes, para a atual megalópole de mais de 20 milhões, abrangendo Santos, São José dos Campos, Campinas, Jundiaí e Sorocaba, só foi possível avançando por sobre as áreas de inundações nas várzeas dos rios e riachos dessas imensas bacias hidrográficas da Região Metropolitana de São Paulo; daí as frequentes inundações atuais.
Existem remédios definitivos para essas enchentes? Elas só podem ser bem administradas, pois como podemos notar não são resolvíveis. 01/02/2025
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