Os Dilemas Americanos na América Latina Parte 2
- RICARDO GOMES RODRIGUES
- 9 de fev.
- 6 min de leitura
O histórico das lutas políticas domésticas nos Estados Unidos estão no centro da questão da sua capacidade atual para se definir políticas externas críveis e consistentes.
“Make America Great Again” é vista agora sob essa rigorosa análise histórica de como as políticas externas dos Americanos têm oscilado pendularmente desde o fim da Segunda Guerra Mundial, impactadas por lutas domésticas entre Republicanos e Democratas, e manipulados por seu complexo industrial militar (Deep State).
As políticas de boa vizinhança dos 1950, 60, 70 e até início dos 1990, com predominância Republicana e conservadora, favoreceu imensamente o desenvolvimento e a industrialização de toda América Latina, quando o Brasil em 1980 tornou-se um dos principais países emergentes, e o Rio de Janeiro tinha o metro quadrado mais caro do Mundo.
As políticas dos Democratas focadas em direitos humanos e globalização através de uma rígida divisão de tarefas, e produção econômica favoreceu a Ásia, tornando a China Comunista numa superpotência em menos de 30 anos, fazendo-os parecer bons imperialistas.
As políticas de direitos humanos norte americanas encobriram essa reviravolta tanto no âmbito doméstico contra os Republicanos quanto no âmbito externo, favorecendo a ideia de que a China (comunista) seria a herdeira da antiga União Soviética, agora assessorada pela Universidade de Harvard, e respaldada pelo politicamente correto não apenas dos direitos humanos, mas também dessas políticas maliciosas de proteção ambiental e “economia verde”.
Esse exemplo de como as reviravoltas internas impactam a definição das politicas externas nos Estados Unidos produz consequências hoje, quando o Presidente Trump assume, dando a impressão de que as políticas anteriores a 1990 estão de volta.
O que definiu a política externa dos Estados Unidos nos últimos 40 anos, não será esquecido facilmente devido as consequências políticas e dos impactos que causaram no mundo, e em particular na América Latina.
O principal impacto foi a desindustrialização, e a regressão econômica produzida pela globalização forçada dos Democratas que substituiu o Brasil como a maior economia emergente do final dos 80, pela economia da China (Comunista) superpotência da atualidade.
A pior consequência foi o descrédito, não exatamente dos efeitos que as políticas externas dos Democratas causaram, mas sim do próprio Estados Unidos como nação, e de seus sistema político, que ficou claro que tem um viés, se não imprevisível, não totalmente confiável. Afinal nunca se sabe quando as coisas podem mudar, atirando antigos aliados na lata de lixo da história.
Essas imprevisibilidades que o impacto das políticas domésticas Americanas podem causar na definição de suas políticas externas é o tema que deve estar no centro da nova administração Trump que assume em Washington, pois o bom entendimento dessa questão é vital para o sucesso político do novo Presidente.
O principal efeito do impacto nas reviravoltas quanto a redefinição da política externa Americana para a nossa região, impulsionada pelos Democratas desde o Brasil até o México, não foi exatamente econômico ou social, mas sim político.
Desmoronou-se a antiga constituição daquela casta cívico-militar que havia entre 1950 até 1990, que estava alicerçada no apoio incondicional que os militares de então prestavam à causa Yankee, devido aos excelentes resultados econômicos que, por exemplo, tornaram o Brasil um país razoavelmente industrializado e principal potência emergente da época.
São exatamente essas consequências, que causaram a perda de apoio à causa Yankee hoje na região, e que definem as atuais políticas internas tanto da Venezuela quanto da Nicarágua, que por sua vez, são totalmente diferentes das razões que impulsionaram Castro e a Revolução Cubana.
Sem entender bem essas diferenças, nenhuma política externa Americana será exitosa na América Latina, pois que por razões políticas totalmente diferentes, formou-se um elo comum entre todos os regimes latino-americanos a partir das políticas de desindustrialização forçada dos Democratas que vitimaram nossa região.
Portanto, as diferenças entre Brasil, México, Chile, Colômbia, Venezuela, Nicarágua, e até mesmo Cuba, embora muito diferentes historicamente, são semelhantes embora não iguais.
As políticas Democratas focadas em direitos humanos, crise ambiental e globalização forçada, esconde o favorecimento descarado para com o tirânico regime comunista chinês, que para ter êxito tinha que derrubar o principal alicerce que era o apoio que os militares prestavam às políticas de industrialização dos Republicanos para América Latina, realinhando os interesses políticos de Washington através de sucessivos golpes de Estado por toda a região.
Devido a essa reviravolta doméstica impulsionada pelos Democratas para favorecer a industrialização da China (Comunista), os principais apoiadores de Washington de 30 anos foram parar no banco dos réus.
O exército Argentino foi encarcerado; os chilenos e os brasileiros escaparam por pouco, acabando todos por representarem o que havia de pior em termos de direitos humanos; como torturas e perseguições políticas.
Sujaram bem as mãos deles no curto prazo para depois os atirarem na lata de lixo da história, favorecendo o tirânico regime Comunista Chinês no longo prazo. Isso jamais será esquecido!
Ao mesmo tempo em Washington, os Republicanos mudaram de lado, limpando a face mais suja de Bush pai, que como líder da CIA foi o principal responsável pela brutal perseguição dos 70 tanto na Argentina como no Brasil e Chile, oferecendo como alternativa a nova política doméstica yankee um Bush filho com visíveis limitações intelectuais, que passou a fazer coro com os Democratas, atuando todos juntos falsamente como muito bons imperialistas, culminando na ascensão de OBAMA, como exemplo bem sucedido de como direitos humanos elevavam minorias negras ao poder em Washington, vilificando, por outro lado os “latinos” das ditaduras militares.
Essa face mais limpa de um OBAMA como bom imperialista, encobria a face negra do repressivo regime Comunista chinês tanto no Tibet, quando no massacre das minorias turcomanas e mulçumanas dos Uigures da província chinesa de Xiajiang, a níveis muito mais brutais e canalhas do que qualquer regime Pinochet.
O pior dessas oscilações pendulares entre políticas domésticas, e seus efeitos externos para toda America Latina foi a desindustrialização, e a regressão das antigas políticas Republicanas para a região, que sob predominância dos Democratas, agora “in the Bushes”, impulsionou o narco tráfico, a concentração de renda com a transformação da antiga e emergente classe média “Latina” em vendedores de rua, e ainda a decadência dos principais centros urbanos como São Paulo, Rio de Janeiro, Buenos Aires, Cidade do México, Bogotá, etc.
As consequências dessas persistentes reviravoltas históricas para atual ascensão do Republicano Trump ao poder é o questionamento que se faz quanto, agora novamente, a uma nova pretensa reviravolta na política doméstica Americana, e seus possíveis e duradouros impactos externos no mundo, e principalmente em nossa região na América Latina.
O questionamento que se faz nesse momento está diretamente relacionado ao papel que o complexo industrial Americano, que se costuma chamar de “Deep State”, terá no decorrer da administração Trump, ou mais específicamente, quanto apoio militar terá o novo Presidente Americano para controlar os militares alinhados com os Democratas, que vêem a industrialização da Região, e principalmente do Brasil, como uma ameaça, mas não da China (Comunista). Então, se os militares que apoiam Trump serão suficientes para definir uma nova política externa consistente, duradoura, e confiável, essa é a questão hoje.
Colocar americanos de origem cubana no Departamento de Estado Americano dá a impressão de que existe uma perspectiva política de volta aos 1950, mas não com as antigas políticas de industrialização da região, mas sim baseado num certo regime de vassalagem de militares do tipo Fulgêncio Batista.
Não é possível evitar essas analogias quando Trump coloca ênfase em Little Havana como exemplo para “pacificar” a região desde Venezuela, Nicarágua até Cuba propriamente dito sem entender bem as complexidades políticas do momento, que foram geradas pelas políticas externas dos Democratas nos últimos 40 anos. Elas deixaram ressentimentos profundos pelo empobrecimento causado em toda a região.
Não há volta atrás para as políticas dos 1950, devido as marcas deixadas na região pelos Democratas que favoreceram a China (Comunista), e atiraram os militares latino-americanos na lata de lixo da história.
Os políticos americanos de origem cubana são esteriótipos de uma época há muito já passada através de narrativas, que na reviravolta dos 60 para os 70 foram usadas para derrubar Richard Nixon através de sucessivos golpes mediáticos e judiciais dos Democratas, que aliás tem vitimado o próprio Trump.
De novo, a questão são essas oscilações constantes nas questões de políticas domésticas Americanas, que estão centradas no comportamento do complexo industrial militar (Deep State), que enfraqueceu a Presidência dos Estados Unidos desde o assassinato do Presidente Kennedy como um cachorro no meio da rua, e ainda de seu irmão Robert Kennedy que se tornaria Presidente para responsabilizar todos os envolvidos na crueldade que fizeram com John Kennedy.
A conclusão é que fica muito difícil de se entender a profundidade das reviravoltas propostas por Trump junto a esse “Deep State”, que transforma a democracia americana numa constante oscilação armada entre votos, e intensões políticas dissimuladas ou ocultas dos eleitores Americanos.
Quando o complexo militar se divide em facções políticas, a democracia se converte em uma ditadura disfarçada.
As marcas deixadas por essas reviravoltas domésticas Americanas na constituição da casta cívico-militar latino americana foram profundas. Qualquer comprometimento com um lado ou outro é temerário.
Eu falo também por mim mesmo, fui estudar nos Estados Unidos na George Washington University em 1988, e tive minha vida destruída inexoravelmente sem nenhum tipo de direitos humanos.
Funcionou assim; um lado um dia me apoiou, e o outro me destruiu. Foi assim também com os militares Argentinos, Chilenos e Brasileiros. 09/01/2025.
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