Os limites na geração de riqueza
- RICARDO GOMES RODRIGUES
- 11 de jan.
- 4 min de leitura
Está claro que a questão financeira não está no centro da geração de riqueza.
Em nossa sociedade industrial moderna gerar riqueza é a capacidade de transformar capital, terra e trabalho em produtos de consumo.
O dinheiro, ou a moeda, é apenas uma representação dessa quantidade gerada de riqueza na produção sem nenhum outro significado real.
O sistema financeiro em per si não tem essa capacidade de gerar riqueza que está intuitivamente na mente das pessoas.
Se não há produção não há riqueza, e a maior ou menor quantidade de dinheiro em circulação não fará diferença alguma.
O sistema financeiro é parte derivativa da produção na medida em que se transforma capital, terra e trabalho em riqueza efetiva; gerando-se em consequência emprego, salário e renda, o que faz mover a roda da fortuna econômica; gerando-se mais capital que a partir do sistema financeiro volta a investir no sistema produtivo; gerando-se mais emprego, salário e renda.
A moeda é uma ilusão fiduciária que não pode ser estocada, e que ao se valorizar no tempo cria-se com isso a noção dos juros, e a própria ideia de uma “capitalização” (do capital); daí a palavra “capitalismo”.
Se a produção se detém, a roda da fortuna financeiro pára, empacotando emprego, salário e renda um por cima do outro num “engavetamento” formidável.
A pior dessas consequências é de que a valorização da moeda no tempo também se estanca, levando-se a uma preferência exagerada pela mais alta liquidez, destruindo-se a noção dos juros como a valorização da moeda no tempo, acabando-se assim, com a capacidade de capitalização, “capitalismo”, do sistema financeiro.
Nessas condições de exagerada preferência pela mais alta liquidez, os “papéis” financeiros, os quais, em última análise representam títulos de dívidas, ou aposta na valorização futura da moeda (capital), deixam de ser uma opção interessante, fazendo com que as apostas sejam aqui e agora, estancando-se a roda financeira, e a capacidade de se financiar o sistema produtivo, que aliás foi o primeiro a parar no giro da roda da fortuna.
A conclusão é de que diante do amortiguamento da capacidade de se transformar capital, terra e trabalho em produção de bens, a moeda (dinheiro) estocada nos Bancos perdem sua capacidade de girar a roda da fortuna, levando a as instituições financeiras a dura realidade de que ao transformarem títulos em capital acabam ficando com enormes dívidas, e a “mágica” de transformar dívida em liquidez se desfaz, ficando essas instituições insolventes.
Imprimir mais moeda com a finalidade de se injetar mais capital nessa roda quebrada das finanças versus produção com o objetivo de empurrar a produção versus consumo não surte efeito algum, pois que o problema é a produção que se desvanece.
Nessas condições, injetar dinheiro para hipoteticamente aumentar a capacidade de mais produção; ou por outro lado, aumentar a capacidade de maior consumo é ineficaz, pois que o “mecanismo” mais básico da produção que é emprego, salário e renda está deteriorado.
Como consequência, imprimir mais dinheiro gera maior estoque na poupança, já que como não há mais atrativos no consumo a moeda fica retida na poupança do consumidor, aumentando perigosamente a liquidez no caixa dos Bancos sem ter aonde investir inutilizando-se, desse modo, seus títulos de capitalização.
A pergunta então é essa: por que esse mecanismo básico da produção (salário, emprego e renda) está deteriorado ou se está deteriorando.
Existem muitas respostas para essa pergunta, mas todas elas de uma forma outra, relacionam-se com a exaustão nos “mecanismos” de produção industrial, referentes a padronização, estandartização, automatização, e todos esses processos essenciais da produção em massa que levaram a constituição das “linhas de montagem” com o objetivo de se reduzirem os custos, e os preços da produção a níveis médios (custos e preço médios) cada vez mais para baixo.
A capacidade de estandartização das linhas de montagem acabam por se exaurirem, e o que era benefícioso com a redução continua dos preços a níveis médios cada vez menores torna-se um problema, pois que os custos e os preços marginais, os quais, impulsionaram originalmente o interesse na produção perdem seus efeitos de grande alavancagem na capitalização da moeda através do tempo, e assim, paradoxalmente os mecanismos de produção (capital, terra e trabalho) versus (salário, emprego e renda) se detém.
A redução dos custos da produção, a níveis cada vez mais baixos diminuem os atrativos que os custos marginais eram capazes de gerarem na relação investimentos (versus) retornos de digamos, 1 para 1000 em direção à 1 para 10. Isso faz toda a diferença, na medida em que essas relações de investimentos versus retornos se aproximam, digamos, em direção a relação de 1 para 1, ficando bem óbvia o porquê a produção se detém, e toda a roda da fortuna (salário, emprego e renda) se desvanece, transformando-se títulos financeiros em dívidas impagáveis, criando-se com isso uma exagerada preferência pela mais alta liquidez.
Esse interesse atual no “aqui e agora” é uma tentativa desesperada para se recuperarem tantos os custos quanto os preços marginais da economia que foram “obliterados” pela padronização excessiva das linhas de montagem nesse nosso mundo globalizado, focado nos benefícios da produção em massa, o que se tornou uma opção muito exagerada e gananciosa
Como podemos perceber, a produção industrial tem limites; a produção em massa com o tempo deixa de ser interessante, obliterando-se a capitalização da moeda no longo prazo, favorecendo-se a máximo liquidez no aqui e agora, tornando-se os títulos de capitalização em dívidas impagáveis.
É por essas razões que a roda da fortuna salário, emprego e renda se desvanecem...
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