A Questão do Emprego, Salário e Renda no Brasil
- RICARDO GOMES RODRIGUES
- 15 de out. de 2020
- 6 min de leitura
Atualizado: 17 de mar. de 2022

Primeira Parte
Emprego no Brasil sempre ficou restrito a alguns setores e pode-se considerar que como um fenômeno de massa é relativamente recente em nossa história econômica. Salário tem sido, com certeza, o fenômeno mais frequente porém, mesmo assim, através do tempo tem sofrido altos e baixos. Já a renda é esporádica, irregular e expressa a extrema fragilidade econômica do brasileiro.
No início de nossa formação nacional, durante ainda no período monárquico, a questão da sobrevivência econômica, sob o ponto de vista do povo brasileiro em geral, era uma árdua tarefa, o que pode explicar o quão tardio o câncer da escravidão foi eliminado, pelo menos legalmente, como parte das Instituições econômicas da época. Emprego nesse período era restrito aos funcionários públicos civis, militares e religiosos através de pagamentos mensais regulares sem interrupções por parte do Estado Brasileiro, o que lhes oferecia as vantagens de uma vida estável e crédito na praça. Para todos os outros segmentos da população ou se era dono de fundos de comércios ou empregado doméstico, o que era amplamente confundido com escravos pois era comum não receberem pagamentos regulares ou nenhum. Trabalhavam a custa da sobrevivência pelo abrigo precário de um quartinho nos fundos e comida. A razão dessa precariedade do "emprego" nessa época era devido ao fato de que os empregadores, provavelmente, também não podiam contar com renda certa, uma vez que não havia propriamente um mercado de consumo, o que gerava uma precariedade generalizada na questão do emprego, salário e renda no Brasil de então.
Ainda nessa época, do meio para o final do século 19 no Brasil, começaram a surgir as grandes corporações, tais como, Bancos comerciais e ferrovias, os quais, passaram a competir com a capacidade do Estado em gerar empregos com pagamentos regulares, estáveis e ininterruptos, aumentando o leque de opções de estabilidade social disponível aos Brasileiros.
A grande mudança que viria alterar profundamente essas questões de emprego, salário e renda e suas consequentes relações econômicas de modo profundo, originou-se em Detroit, nos EE.UU (América), com a invenção das revolucionárias linhas de montagem por Henry Ford. A partir dessas linhas de montagem, criou-se uma maneira estável e previsível de se gerar riqueza com ganhos reais de produtividade, favorecendo, dessa forma, o emprego, em primeiro lugar, através de consequentes aumentos na produtividade. Em segundo lugar, esses ganhos de produtividade eram repassados a ganhos salariais efetivos, o que favorecia o consumo. E, ainda, em terceiro lugar, as linhas de montagem, deram partida a um esquema de financiamento tanto da produção quanto do consumo, o que beneficiava enormes ganhos efetivos de capitais e consequentemente a renda dos investidores. Assim, os custos alavancavam os juros do mesmo modo que o emprego alavancava o salário e a renda tanto dos produtores quanto dos consumidores.
Prof. Ricardo Gomes Rodrigues. São Carlos,28 de fevereiro de 2019

Segunda Parte
O entendimento de como funcionam essas relações de emprego, salário e renda é fundamental para o claro entendimento da crise econômica pela qual estamos passando nesse momento, no início do século 21, e de como são pueris e fantasiosas as políticas, ou melhor dizendo, vulgares estratagemas neoliberais, os quais, desde o final da década de 1970 e inicio dos 80, vêm subvertendo os ganhos iniciados pela revolução de Henry Ford das linhas de montagem, nos empurrando a todos de volta à precariedade econômica e social, desconsiderando que produção e consumo; custos e juros; investimento e trabalho funcionam em torno de ciclos virtuosos de alavancagens mútuas.
A partir da década de 1950, o Brasil deu um tremendo salto a frente em seu desenvolvimento, justamente porque as tradicionais e instáveis relações econômicas, as quais, historicamente vinham provocando uma constante precariedade tanto no emprego quanto nos salários e rendas, tinham afinal sido bem compreendidas e equacionadas.
O grande esforço de desenvolvimento empreendido pelo Brasil, desde então, tem sido de como eficazmente gerar empregos com ganhos de produtividade capazes de produzir consequentes ganhos efetivos de salários, estimulando a renda tanto dos produtores quanto dos consumidores.
O primeiro passo foi aumentar as possibilidades de emprego com salários estáveis, os quais, tradicionalmente estavam restritos ao Estado Brasileiro via funcionalismo público e suas autarquias, estimulando dessa forma Empresas Estatais, Bancos Comerciais e Estatais, assim como, a indústria automobilística. Porém, o maior desafio foi de como constituir um mercado propriamente dito, fazendo com que a população do país saltasse dos 52 milhões em 1950 para os formidáveis 210 milhões de brasileiros de 2019.
Essas mudanças históricas, não apenas alteraram as tradicionais relações de precariedade entre emprego, salário e renda, mas também, multiplicaram as atividades que geravam riqueza e PIB (Produto Interno Bruto) a um nível tão grande e complexo que tornou a ciência da economia e da administração pública da Fazenda Nacional tarefas altamente estratégicas e árduas em que o objetivo primordial passou a de ser capaz de constantemente avaliar como empregos geram salários com ganhos de produtividade e, ainda, como custos e juros alavancam as rendas tanto dos investidores, produtores e consumidores.
Nessa árdua tarefa de vencer suas precariedades econômicas e sociais, o Estado Brasileiro lançou mão de duas estratégias: ora endividando-se, e provocando aumento nos juros; ora financiando-se via Tesouro Nacional, disparando a inflação. A questão orçamentária passou a ser um jogo de xadrez complexo; ora assumindo encargos sociais; ora vindo em socorro dos entes federados, os quais, em sua maioria, tem baixa capacidade arrecadadora devido principalmente as suas baixas densidades populacionais e, portanto, econômicas, com exceção feita ao Estado de São Paulo, o qual, com mais de 45 milhões de habitantes e altas densidades populacionais e econômicas, tornou-se um Estado dentro do Estado-Nação.
Prof. Ricardo Gomes Rodrigues. São Carlos,2 de março de 2019

Terceira Parte
A formação do mercado brasileiro, para além do formidável crescimento populacional observado entre 1950 e 2019, foi de vencer as grandes extensões territoriais do país e suas consequentes pulverizações populacionais e econômicas. Essa pulverização econômica, ainda hoje muito comum no Brasil, cria bolsões de baixas densidades econômicas, dificultando a criação de oportunidades de negócios e desenvolvimento. Além disso, um relevo muito irregular e acidentado era um componente que agravava o desenvolvimento de uma rede de transporte e logística, condenando áreas inteiras ao subdesenvolvimento econômico-social.
Numa primeira fase, o Plano Viário Nacional nascido por volta de 1950 e publicado no início dos 70, tratou direta ou indiretamente dessas questões, oferecendo alternativas através da definição de uma política para os transportes e a logística, criando, dessa forma, uma formidável malha viária a qual, "normalizou", por assim dizer, o terreno extremamente irregular e acidentado do Planalto Central Brasileiro desde o Rio Grande do Sul até os limites da Amazônia, envolvendo desde Manaus, no Amazonas, até Belém, no Pará.
A segunda fase, seria vencer a questão da pulverização econômica, devido as baixas densidades populacionais, criando núcleos regionais de desenvolvimento em torno das capitais de Estado e áreas de lideranças econômicas, os quais, viriam a se tornar nas mais de 40 regiões metropolitanas existentes atualmente segundo o IBGE. Hoje, essas áreas constituem-se em núcleos urbanos rondando os 100 milhões de habitantes, espalhados por todo o país de Porto Alegre a Campinas, do Rio de Janeiro a Brasília de Manaus a salvador, Recife e Fortaleza.
Então, o Plano Viário Nacional não apenas criou uma malha rodoviária nacional mas gerou atividades econômicas que acabaram por se tornarem líderes na geração de valor adicionado bruto ao PIB, tais como, para as atividades de varejo, atacado e oficinas mecânicas. Essas atividades nasceram das ligações logísticas necessárias para se conectar todas essas regiões metropolitanas mencionadas acima, as quais geram alta densidade populacional e, portanto, econômica espalhadas sobre esse vasto território brasileiro.
As consequências, do tema discutido acima, para a questão do emprego, salário e renda tornaram-se um imenso desafio, situando-se no centro dos principais problemas e preocupações no Brasil da atualidade pois que as atividades que mais geram valor adicionado ao PIB dentro dos Municípios brasileiros em geral e das Regiões Metropolitanas em particular não são necessariamente coincidentes com a mesma capacidade das empresas desses mesmo núcleos urbanos em gerarem empregos equivalentes. Assim, embora administração pública e seguridade social sejam importantes atividades geradoras de valor adicionado ao PIB dos Municípios, elas não tem correspondência equivalente nas atividades das empresas locais já que são geradas a partir da administração pública.
O reverso é também preocupante. Por exemplo, a capacidade das atividades manufatureiras em gerarem empresas maiores e empregos em maior quantidade não correspondem, necessariamente, às principais fontes geradoras de valor adicionado ao PIB para a maioria dos Municípios, criando-se dessa forma um descompasso entre capacidade de geração de riqueza (valor adicionado ao PIB) e empregos com nefastas consequências para o ciclo virtuoso de alavancagens mútuas entre custos e juros; salário e renda; e ganhos recíprocos tanto para os produtores quanto para os consumidores.
Esse problema, observado ao longo da cadeia produtiva dos Municípios brasileiros, cria um dilema complicado entre atividades capazes de gerarem grandes quantidades de valores adicionados e baixa quantidade de empregos versus grandes quantidades de empresas capazes de gerarem muitos empregos de reduzidas repercussões para as atividades de valores dos PIB municipais.
Conclui-se que o Brasil tem atualmente algo próximo de 100 milhões de pessoas concentradas em áreas de grandes densidades populacionais e econômicas, espalhadas por um amplo território, com capacidade reduzida de gerar emprego, salário e renda, reproduzindo, com isso, um ciclo de precariedades que desalavancam ganhos e produtividades, gerando potenciais para graves conflitos sociais de difíceis soluções.
Prof. Ricardo Gomes Rodrigues. São Carlos,3 de março de 2019.
Gráficos
IBGE-216





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